25.4.13

eu sei, não é assim.

ah, mas se a gente tivesse se encontrado num ônibus
e você pedia pra segurar a minha bolsa
e eu tentava olhar no teu celular
pra descobrir seu gosto musical.

daí talvez desse certo.

se a gente se encontrasse na fila do supermercado
você dizia qualquer gracinha sobre o carrinho do cara da frente
eu ria sem entender uma palavra.

se a gente se entreolhasse no ponto da minha casa
e você pegava o meu ônibus
e você me perseguia até o prédio do meu curso
e eu descobria que você não tava me seguindo era coisa nenhuma, tava era indo pra sua aula
e eu ficava te olhando de longe, pra ver se você virava pra me perceber. e virava.

e se eu tivesse te visto de relance no vidro do ônibus
e se eu tivesse te visto de relance andando de bicicleta
e se eu tivesse te visto de relance saindo do elevador

mas acontece que você não pega o meu ônibus
nem vai no meu supermercado
nem estuda na minha faculdade
nem vive na minha cidade
nem mora na minha rua.





3.4.13

Amém.

Em tudo o que faço, vejo seu olhar repreensivo.
Antes de fazer, quando penso, te lembro.
Por quê te considero? Mas considero. E faço, ou não.
Uns dias te mando ir se catar, no pensamento. Nos outros digo amém, mas mesmo assim.
E vejo seus olhos me reprovando.

Mas ai de mim quando te vejo.
Quando o você do meu mundo - que conhece e reprova tudo quanto faço - se encontra com o real você.

Quando te vejo ouço
O grito oco de um tiro.

30.3.13

Him

Ele gosta de meninas como a auto-estima abaixo de zero.
Meninas, porque não as vê como mulheres.

Ele gosta de acender seu cigarro em paz, ele gosta de passar na ponte.

Ele exibe sua lista previamente organizada de manias e peculiaridades
como se fossem troféus e premiações.

Ele não gosta de mate.

Poderia ficar dias olhando os mesmos olhos,
mas ele ama todas e não ama nenhuma.

Ele gosta quando elas pintam as unhas dos pés.

Ele guarda a si próprio a sete palmos do chão,
a sete chaves.

Mas eu encontrei todas elas.