9.2.17

4 AM

Da minha janela
que eu fumo
eu vejo você e me pergunto

se tá tão sozinha
quanto eu.

8.12.16

Passageiro

Se eu conhecesse os passageiros do ônibus
eu cumprimentaria cada um
traria bolo no aniversário do motorista
e do trocador
daria adeus e até amanhã quando saísse.

Se eu os conhecesse eu saberia
que a Dona Inês vai fazer operação nos rins
que o Cláudio terminou o curso de inglês
que a filha da Ester estava de férias, viajando pra Maceió.

Mas o que me faz desconhecer é muito mais do que
o simples fato de que nunca os conheci
é muito mais do que não encontrá-los todos os dias
é mais do que não ter gostos em comum

Quando a gente não conhece a gente não ama.

Leite Derramado

De repente sinto nojo. Nojo da nossa conversa, do nosso olhar, da nossa distância. Preciso falar até expulsar esse demônio. Preciso te abraçar até que acabe, e você me sinta, pura e verdadeira.

Mas não o faço. Fugirias de mim, e do meu demônio.

Vai embora, tá cansado. Também estou. Não do trabalho, não de viver, mas de tí. De te ver e não poder saciar essa fome insana. Cansada de fitar o seu olhar vazio, e de tentar captar qualquer sinal de comunicação em que eu reconheceria em tí o mesmo demônio, em vão.

Porque não consegues me entender!? Não sentes essa aflição, esse peso no ar? Essa neblina e esse abismo de escuridão?

Não sentes pois teu demônio é de silêncio, é de angústia. O meu é de grito.

15.10.15

#1

Você sempre é o meu segundo cigarro.

Aquele que eu tenho a esperança de que seja como o primeiro
que vai me tirar o ar e me deixar tonta
que vai ser tão bom como já foi o anterior.

Eu imagino que vai ser
fantasio que vai ser
eu calculo cada movimento pra que seja
eu espero que seja
quero tanto que seja.

Eu te quero com tanto prazer
com tanta vontade

Mas nunca vai ser igual ao que já foi.
Nunca é.
E me deixa com esse amargo na boca
essa sensação de "devia ter parado antes"
um arrependimento leve e esperado, daí eu lembro.

Só posso te tragar uma vez por dia.







(mas a primeira vez sempre me deixa ansiando por mais)
(o que seria do primeiro cigarro se não tivesse o segundo?)


24.11.14

O Vigia da Ilha

Todo dia voltando da aula, tem uma pedra que me olha.


Meu avô dizia vigia,
Minha mãe dizia montanha,
Eu digo que é o meu coração 
Que virou pedra e foi morar lá no alto.
É o meu futuro, que olha de longe e inalcançável.
É um pai, que esperou tanto tempo que virou lenda.

E o que aquela pedra tem 
É um olhar de saudade.
Ele me chama para um abraço, mas eu desvio o olhar toda vez.
Ele quer me alertar de que o mundo visto de cima
Não é igual ao visto de baixo.
Da minha janela, o vejo de costas
Observando tudo, tomando conta,
Mas ele não pode proteger
Pois não tem braços 
Só olhos

Que me olham todo dia voltando da aula.

25.4.13

eu sei, não é assim.

ah, mas se a gente tivesse se encontrado num ônibus
e você pedia pra segurar a minha bolsa
e eu tentava olhar no teu celular
pra descobrir seu gosto musical.

daí talvez desse certo.

se a gente se encontrasse na fila do supermercado
você dizia qualquer gracinha sobre o carrinho do cara da frente
eu ria sem entender uma palavra.

se a gente se entreolhasse no ponto da minha casa
e você pegava o meu ônibus
e você me perseguia até o prédio do meu curso
e eu descobria que você não tava me seguindo era coisa nenhuma, tava era indo pra sua aula
e eu ficava te olhando de longe, pra ver se você virava pra me perceber. e virava.

e se eu tivesse te visto de relance no vidro do ônibus
e se eu tivesse te visto de relance andando de bicicleta
e se eu tivesse te visto de relance saindo do elevador

mas acontece que você não pega o meu ônibus
nem vai no meu supermercado
nem estuda na minha faculdade
nem vive na minha cidade
nem mora na minha rua.





3.4.13

Amém.

Em tudo o que faço, vejo seu olhar repreensivo.
Antes de fazer, quando penso, te lembro.
Por quê te considero? Mas considero. E faço, ou não.
Uns dias te mando ir se catar, no pensamento. Nos outros digo amém, mas mesmo assim.
E vejo seus olhos me reprovando.

Mas ai de mim quando te vejo.
Quando o você do meu mundo - que conhece e reprova tudo quanto faço - se encontra com o real você.

Quando te vejo ouço
O grito oco de um tiro.

30.3.13

Him

Ele gosta de meninas como a auto-estima abaixo de zero.
Meninas, porque não as vê como mulheres.

Ele gosta de acender seu cigarro em paz, ele gosta de passar na ponte.

Ele exibe sua lista previamente organizada de manias e peculiaridades
como se fossem troféus e premiações.

Ele não gosta de mate.

Poderia ficar dias olhando os mesmos olhos,
mas ele ama todas e não ama nenhuma.

Ele gosta quando elas pintam as unhas dos pés.

Ele guarda a si próprio a sete palmos do chão,
a sete chaves.

Mas eu encontrei todas elas.

24.2.12

Toma

Estou pronta, pode vir.
Você, o futuro.
Sempre cuidei para que ficasse longe, para não dar as caras.
Agora tudo bem, pode vir.
Estou esperando.

Mas ele não veio.
Meu futuro fez as malas e levou o melhor de mim.
Só tenho o presente.

Mas esse presente eu não quero, toma pra ti.

28.4.11

Mea Culpa

Não te culpo por nada.
Já culpei demais, não mais.
Não te culpo pelo ciúme e inveja
nem pela insegurança
não te culpo.
Não te culpo por não estar, e todos perguntarem (e eles perguntavam)
onde estavas, nem por isso.
Meu bem, podia ser diferente
mais humano, mais coração.
Mesmo assim não te culpo.
Seria até bom culpar alguém
(só me vem você à mente)
pra desencargo
mas não te culpo.
Não te culpo por nada
nem mesmo pelo não-telefonema
ou pelo não-sorriso. Não culpo.
Mesmo sendo tua a culpa
mesmo tendo os que dizem
(e eles dizem)
que foi você, não o culpo.

Pois mais amarga é a minha culpa
de não ter culpa alguma
e me sentir culpada.

1.2.11

Hereditariedades

Ser como você
de estar sempre pronto
sempre belo
sempre constante.
Ser desse jeito
traiçoeiro, irritante
cruel e ainda amado
esquecer dos amigos
e família
e não ligar de ser esquecido.
Se justificar
e acreditar.
Te fujo tanto,
fujo de ser assim desentendido
inaconselhável
completamente desejável.
Fujo tanto que a minha vontade
de não ser
se esqueceu, se perdeu nos dias
e eu me tornei assim:
exatamente igual a você.

12.8.10

Inrespirar

Eu inrespiro.
Foi raro, mas agora acontece frequentemente.
Acontece mais por causa do frio do ar condicionado, do chá mate e do outono.
Acontece quando a paixão inunda meus pulmões e me sufoca.
E eu morro por alguns segundos/momentos/minutos/infinitos.
É porque hoje é quinta-feira, ou por causa da sua camisa xadrez, é por causa da poeira nos livros que eu engulo tentando abstrair alguma genialidade.
Acontece a-cada-vez que eu atravesso a ponte.
Quando eu olho pros meninos da escolinha de futebol de praia, quando eu compro um jornal, quando eu amo uma amizade.
É como se eu estivesse coberta, mas agora estou à flor da pele, como diria nosso querido amigo.
É porque eu queria aprender violino, e porque os Smiths tocam tão bem, mesmo ninguém ouvindo, eles continuam, e eu os ouço andando na praia (no pensamento, porque na verdade eu estou little morrendo na minha janela).
É porque o porteiro troca experiências de amor com o pedreiro da reforma, é por causa do mar chegar tão perto que quase entra na rua e alaga os ciclistas.
A cada vez que isso acontece, e especialmente porque é quinta-feira, eu inrespiro.
E eu vou morrendo a cada segundo/momento/minuto/infinito, até me entregar completamente à idéia de amar simplesmente, e esquecer de respirar.

11.5.10

La Pianiste

Um dia percebeu. Há quanto tempo estivera ali? Um piano jazia mudo, vegetal no canto da sala. Não existisse, e teria mais espaço para a televisão.
Que grande desperdício, um exibicionismo de passado. Ter um piano.
Ninguém mais perguntava quem toca, já tinha virado parede.
Passou de novo pelo infeliz, talvez fosse melhor vendê-lo logo. Mas quem havia de querer um piano? Coisa antiquada. Era um elefante branco em plena velhice. Tinha a mesma idade da dona, mas parecia um pai, acusando e cobrando.
Acharia alguém que o quisesse.
Voltou para reabastecer a xícara de café e o viu de novo. Um incômodo. Ficou olhando, e sentiu amor e saudade. Sentou-se. Abriu a sua boca. Parecia impossível que ainda cantasse alguma coisa. Um cadáver.
Tirou o pano que guardava seus dentes intactos, amarelos de quem fuma. Diria o que? Apenas tocaria. Abraçou as lembranças e gritou uma nota. O corpo estremeceu.
A dor chegou até a espinha. Seria possível lembrar ainda? Fechou os olhos. A decepção, a raiva, não tinha mais volta. Sentiu dor, a garganta apertando. Amaria aquele pai até a sua morte.
Cedeu e tocou. E as lágrimas saíram ardendo, e a angústia foi junto.
Morreremos juntos, por mais que eu te odeie e te evite.

9.12.09

Que não seja

Ela gosta muito dele (ama!), na verdade ela ama.
Todas as palavras e músicas e todas as cores ao redor fazem o momento parecer perfeito. Uma perfeita ilusão do que seria se fosse.
Tudo o que ele queria, tudo o que esperava.
O que ele queria era ouvir dela três palavras, sete letras. Uma declaração de guerra, um sufoco de uma frase só, tudo o que ela não poderia.
Tão simples e tão impossível. Tantos mentem, mas porque eles não?
Eles não mentem. Ela omite.
E cada olhar dele implora, e ela implora de volta. E eles se amam.
Mas a vida não quis.
E ele não conseguiria arrancar essas palavras dela, essa carta de amor, não adianta.
Você não vai conseguir.

2.11.09

Bife com fritas.
Mais bife, mais fritas, e dá-lhe arroz.
É no almoço, é na janta, é um dia.
É um dia de televisão com chips.
É um dia de olhares cansados e falta de palavras.
Ele nem sabe mais o que quer, nem sabe mais o que é
mas acaba fechando o cardápio e pedindo as malditas fritas.
E o bife.
E o arroz, que sempre sobra esquecido no canto do prato.
Mas por que todos estão tristes? Nem um sorriso.
Nem uma frase alegre.
Nada a falar.
Querendo ou não, mais um domingo de sofá.


E ainda querem que eu explique o porquê.

22.10.09

And you don't even know yet.

Depois de ter você,
Poetas para quê?
As dívidas?
As dúvidas?
Para quê amendoeiras pelas ruas?
Para quê ruas?
E as fechaduras nas portas?
Telefones, papéis?

Depois de ter você,
Para quê saber que horas são?
Se é noite ou faz calor?
Se estamos no verão?
Se o sol virá ou não?

30.9.09

Dueto

Então tá. Nós vamos ouvir os meus vinis e decifrar cada música, cada batida, cada tom, e vamos escolher uma delas e batizar de nossa. Vamos ouví-la bebendo café, e comendo pão pela manhã. Vamos ficar com ela na cabeça o dia todo, e de noite vamos nos encontrar e cantar ela juntos. Vamos ler cada livro, abraçar cada palavra, beijar cada pedaço de pele.
Você vai reclamar do meu café e eu vou reclamar da sua barba.

30.7.09

Minha Tereza.

O caso era a pinta, que um dia ela quis esconder com maquiagem.
Um dia chegou um moço, e se apaixonou pela pinta, e levou a pinta pra ver o mundo.
Um dia nasceu uma pintinha.
Ela quis acreditar, não pode negar, que a pinta seria seu charme.
E a pinta sempre lá, sempre lá.
(Dizem que se virar o rosto não se vê)
Mas assim ela era reconhecida, pelo menos.
Era chegar, pensavam "Olha a menina da pinta"
Mas não de deboche.
Havia uma certa segurança, em ser a garota da pinta.
As espinhas iam e vinham envolta da pinta.
O batom, ora róseo ora acobreado, só enfeitava.
As vezes crescia, ficava quadrada.
Vinha o sol, e ela quase se perdia.
E ela tinha medo de perder sua marca amiga incorrigível.
Mas um dia
(Depois da juventude, e das coisas boas)
Depois da pintinha e do moço
Ela descobriu que
Como tudo que permanecia na sua vida
A pinta era um tumor.

14.7.09

The Hours

-Por que alguém morre?
-O que?
-Você disse que alguém vai morrer. Porque?
-Hum...
-Isso é uma pergunta estúpida?
-Não.
-Então, porque?
-As pessoas morrem para as outras darem mais valor à vida. É um contraste.

10.7.09

cause I no longer know



I lose some sales
and my boss won't be happy
but I can't stop listening to the sound
of two soft voices blended in perfection
from the reels of this record that I found

every day there's a boy in the mirror
asking me
what are you doing here
finding more that previous motifs
growing increasingly unclear

I travelled far and I burned all the bridges
I belived as sooned as I hit land
all the other
options held before me
wither in the light of my plan

so I lose some sales
and my boss won't be happy
but there's only one thing on my mind
searching boxes underneath the counter
on a chance that on a tape I'd find

a song for
someone who needs somewhere
to long for

homesick
cause I no longer know
where home is

22.6.09

That's why we carry on

The weight of the world is love.

Under the burden of solitude,
under the burden of dissatisfaction,
the weight we carry is love

No rest without love,
no sleep without dreams of love -
be mad or chill,
obsessed with angels or machines,
the final wish is love.

Allan Ginsberg, San Jose, 1954

9.6.09

Só mais dez minutos.

Continua dormindo, meu bem, até que a surpresa desesperada e o encaixar das peças te tirem o fôlego. Dorme, enquanto a vida ainda é linda e os cafés te satisfazem. Dorme e espera, que logo o sol baterá na cortina, e eu não serei mais eu mesma, mas lava, depois pó, depois nada.
E então você acorda.

2.6.09

Até o fim

Ela não quer saber como teria sido se ela não tivesse desistido, se não tivesse fugido dos próprios planos. Não quer saber como seria se ela tivesse passado em um concurso, ou se o namorado tivesse virado gerente, ou os dois. Tudo o que importa é que ela chegou. O que importa é que quando ela olhou adiante, nada mais importava. Tanto fazia o caminho, pois ela soube naquele momento que chegaria, por fim, no mesmo lugar. E ela chegou.
Agora era só tomar as pílulas.

A Ida/Volta

Duas chamadas perdidas e uma meia-despedida depois, ele entra no ônibus. Talvez essa não seja mais uma partida. Talvez ele não queira ir.
Um abraço e um beijo depois, ela entra no avião. Essa vai ser a melhor viagem. Talvez ela não volte.

(são só dois lados da mesma viagem.)

31.5.09

The ones I love



She knows my inside out, she feels the slightest change of my mood.

14.5.09

Coração

Vê o bater incômodo desse músculo descompensado.

Não importa o quanto eu escreva, decore (de-coração), sonhe, queira, cada vez eu me convenço mais. Não importa o tempo que passo sem ver-te, as pessoas que me passam, os conselhos que me dão, no final é entre mim e tí.

E algo continua a dizer-me: escuta-me, escuta-me, escuta-me, es-cu-ta-me, tum-tum.

E o que me leva a viver mesmo? Ah, te ver passar, sentir frio nos pés, tremor nas pernas e ardor no peito. Isso me leva a viver.Portanto não desisto.






e me dizes: boa sorte.

13.4.09

postsecret


I believe that the only way you can be happy
is if I shut you out of my life so you can find someone
who deserves your love.

11.4.09

entrelinhas

E é agora, na calada da noite, que eu olho nos seus olhos e vejo o que eu queria ver. O que niguém sabe explicar. O que estava bem alí na minha frente, e eu não enxerguei.

Nesse momento exato, que eu ouço o teu coração, eu percebo no que eu fui me meter.

8.4.09

rain III

sei
te transpiro
no incansável bater
desse músculo descompensado

tenta contar
tenta segurar

não podes
pois o que fizestes
já é lama
máquina
som.

6.4.09

Alguém para amar


O cara é um gênio, de verdade. Eu estou completamente apaixonada por esses mostros horríveis com detalhes que dão agonia e cores hipnotizantes.
Meu mais novo sonho: conseguir aquele livro.